6 de março de 2013

Cores.

Anna gostava de dar nomes as cores, e as pessoas desesperadas na rua na hora do rush.
Gostava de cachorro grande, de cachorro quente e de refrigerante.
Gostava de beber toda quinta à noite, e de sentar perto da janela no ônibus.
Anna gostava de gente, de sapatos e de roupas que ninguém usava, nem ela mesma.
Gostava de gostar das coisas, gostava da distração daquilo tudo e percebeu que sentia falta de algo, mesmo gostando de tudo...

Anna chegou em casa, e não acendeu as luzes como de costume. Sentou nos pés da cama e chorou baixinho como se estivesse com medo de ser reprimida.
Ela pensou,
Chorou até sentir que não dava mais e decidiu ir embora. Mas antes, olhou pela janela do quarto e viu como     a cidade ficava linda e iluminada. Teve que admitir a si mesma que apesar de gostar de todas as coisa, Anna não gostava , talvez, da mais importantes; ela mesma.

Anninha, fechou os olhos, e um grande barulho calou as buzinas e os mexericos da cidade. Para quem via de fora, enxergava um vermelho forte e vibrante.
Mas Anna, Anna gostou do branco cegante que viu.
Pela primeira vez sentiu algo bom lhe correr as veias.
Pode então dar um nome aquilo tudo. Anna chamou aquilo de paz.

3 de março de 2013

Sweet Nothing

Tudo está andando para trás, e não é para concertar as coisas que deram errado, é para não andar para frente, simplesmente pelo prazer de ser, ou estar dando errado.
Aquela mocinha que batia no peito com autoridade e dizia que conseguia tudo, vivia num mundo onde suas ambições e realidades eram diferentes. Agora quem dita as regras são outras pessoas, outras notas, e um conhecimento idiota em mídias...

Uma chance?
Há quem jure que tudo acontece na hora certa.  Mas a hora, deveria ser agora. faz parecer, que se alguém mais brinca com o relógio das "coisas em hora certa", não gosta dela, ou acha engraçado vê-la assim.

Tudo, e todas as coisas que tem parecem nada. Mesmo com todas as coisas essenciais, e todos os sorrisos oferecidos, lhe falta o mais importante.

Talvez demore muito, talvez não aconteça. Enquanto isso, ela fica estagnada em nada, vivendo um nada, que  nem mesmo doce é.

22 de janeiro de 2013

Limpando a zona.

Christine acordou com o corpo todo dolorido. Caminhou até o banheiro com certa dificuldade, e ao olhar seu semblante no espelho, caiu no choro novamente. Fazia dois meses que Carlos havia "feito as malas", e ela ainda não havia se acostumado com a ideia de ser só. Talvez fosse a cicatriz horrível que ficou em seu rosto, ou o egoísmo de uma vida vivida por dois durante anos de sua existência. Christine chorava, soluçava e sentia pena de estar ali. Achava que estava ocupando um espaço enorme no mundo. Seria difícil de aceitar, ou mesmo começar tudo do zero, mas era hora de limpar aquela bagunça.

Começou arrumando a cama e trocando os lençóis. Só Deus sabia o quanto era difícil trocar aqueles lençóis dês daquele ocorrido que levara Carlos embora. Ela chorou novamente.

Por volta do meio dia, a casa já estava mais ou menos, e Christine julgou que estava tudo bem. Em comparação ao que estava a casa antes, nossa! Ela poderia servir um banquete no chão se quisesse. Preparou um macarrão com legumes, e comeu forçadamente aquele grude. Carlos teria dado aquela risada gostosa e chamado ela para comer fora, se ainda estivesse aqui...

Christine não tolerava, não aceitava olhar para o lado na cama e não encontrar algo físico. Não sabia o que era não dividir a raiva, e não ter ninguém para matar uma barata se quer. Ela se sentia imprestável em meio aquelas lembranças todas. Tentara ser forte em respeito ao corpo imóvel do marido, mas aquilo já era demais. Aquele macarrão, foi a gota d'água.

Ela caminhou até o guarda roupa, apanhou o vestido de casamento cheio de traças e alguns buracos. Ajeitou o cabelo em um grande coque, deixando apenas um cacho cair sobre a testa. Olhou-se no espelho, seu rosto estava inchado e horrível. Passou delineador nas pálpebras gordinhas, e batom vermelho nos lábios rachados. Olhou sua imagem no espelho novamente, e enxergou uma Christine suplicando para que ela parasse. Em seus olhos havia um pedido de misericórdia, um ar de desespero que Christine, a verdadeira, decidiu ignorar e seguir em frente com seus planos. Ela quebrou o espelho, rasgou a mão, e seus olhos brilharam de forma indefinida naquele momento. Sentia  cheiro de Carlos cada vez mais próximo, e se confortou em tomar treze gotas de estricnina. Ela deitou na banheira, enxugou os olhos molhados de lágrimas pela ultima vez. Tomou todo o conteúdo da taça, e esperou seu coração parar de bater aos pouquinhos... Ao fundo, ouvia alguém chamando seu nome com brutalidade. Só podia ser Carlos vindo buscar sua amada. A voz foi se aproximando, e Christine teve certeza, embora a visão estivesse turva, de que era Carlos chamando seu nome. Uma imagem real e confortante.

Carlos chamou e abraçou Christine até sentir seu corpo mole e sem expressões. Tentou pedir ajuda, mas o desespero em seu ser era grande demais. Não conseguiu entender porque Christine não o esperou. O combinado, era que ela esperasse os dois meses em que ele estivesse viajando, e em seguida, ele a buscaria para morarem juntos no novo país.

Pobre Carlos... Estava com o coração tomado em lembranças e arrependimentos. Jurou sobre o corpo de Christine que aguentaria bravamente todos os dias em que sentisse a saudade lhe cortar o coração como uma lâmina cega. Aquilo doía demais. Chegara então a hora de limpar toda aquela zona e se encontrar com Christine.