28 de julho de 2012

Veneno

"Os outros, aqueles que são diferentes de nós e com os quais não nos identificamos, mas que julgamos a partir de nós mesmos, ou seja, o que não conhecemos, porém classificamos conceitos prévios de algo que não sabemos a essência do preconceito (pré-conceito). Ao classificar algo que não conhecemos, utilizamos parâmetros exclusivamente nossos, assim, se chamamos alguém desconhecido de selvagem, de bárbaro, estamos na realidade falando de nós mesmos, pois o outro certamente não possui nada do que erroneamente imaginamos, estamos vendo-os pela primeira vez, daí talvez a origem dos conflitos culturais, pois sempre achamos que nós, nossa cultura, é a correta, a escolhida, a que foi abençoada por Deus. No entanto, o conhecimento do outro é um processo lento, que envolve o querer conhecer e despir-se, se possível, de si mesmo para poder apreender o outro, aprender com o outro, conhecer-se a partir do outro".
(COPANS,1971:14).
As ideias que se alojam na cabeça navegam o corpo implorando por reações involuntárias. As mãos suam, o coração acelera, a pele arrepia e a pupila dilata. Dá vontade de agir, de destilar veneno e ferir, mas nada é feito, pois o pouco de antidoto que ainda existe, (chame consciência, emoção), não permite que o seu lado mau aflore. A ideia que foi colocada é barata, sem fundamente e comprada em qualquer esquina, com qualquer conhecido. Compra-se, talvez, porque aquele “lado bom” que existe diz que é feio julgar sem conhecer e falar do que não sabe. Então, o que te consome de veneno, concorda com a compra, pois além de tudo, como se não bastasse, ele tem preguiça e não concordaria com uma pesquisa rápida que fosse. Sem contar o medo de ser surpreendido e ferir o tão amado ego. Como reagir a surpresa de que o outro, ou a outra coisa é diferente daquilo que sua cabeça criou? É possível render-se ao desconhecido, ou continuar, erroneamente com a cara da ignorância estampada no semblante. Faço esse texto, sinceramente pensando em todas as vezes que eu fui venenosa com o outro e outras coisas. Pensando nas vezes que eu me contentei com compras de ideias baratas que nem eram minhas. Me sinto pequena e um pouco enojada. Algumas vezes tive sim razão, e em muitas outras feri meu ego. Levei muito a sério esse negócio de “Meu santo não bate com o seu”, e percebi que nem sempre é assim. O que não bateu foi a coragem mesmo em conhecer o desconhecido, e se abrir para o novo, que sempre, mesmo que o queira, traz um desconforto danado. Aprendi umas coisas muito interessantes ontem. Me lancei no desconhecido, no que sentia medo, e percebi que nem sempre, ideias demais, julgamentos demais fazem bem a cabeça e ao coração. O ódio cega, e torna tolo o mais interessante e inteligente dos homens. Eu continuo passando sabe-se lá Deus que imagem ao meu semelhante. E fazendo tantas outras também. Por que não?! O único desejo, talvez, é que daqui pra frente haja menos preguiça, menos veneno e menos compras. Eu acho que continuarei com certa acidez vez ou outra, mas preste atenção, é de vez em quando, na maior parte do tempo sobrará ironia e sorrisos sinceros, e nada venenosos.

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