11 de outubro de 2010

Aniversário

7 de Outubro de 2007,meu aniversário!Um dia em que todos param segundinhos para virem me abraçar, lembram de coisas que já fizemos juntos, sentem orgulho de mim e me dão coisas que nunca vou usar,e que supostamente irei deixar no armário especial de aniversário.Evito ao máximo que as pessoas visitem meu apartamento,para não conhecerem minhas intimidades,esse tal armário.
Oi,me chamo Cristina e esse ano eu resolvi fazer algo completamente diferente de todos os outros 26 aniversários que tive.E acreditem,foi um aniversário e tanto...

Felizmente, há 27 anos, minha mãe estava tendo um prazer enorme em descobrir que estava grávida de sua primeira menina, eu. Mamãe planejou meu nascimento exatamente para que eu nascesse em Outubro, especificamente até o dia 22, para ser Libriana. Nunca me senti como alguém de libra. Não sou meiga, não sou generosa, não me preocupo com os outros, e relacionamentos... Não gosto nem de pensar. Queria poder inventar algum signo, um mix de vários que conheço. Iria me sentir melhor...
Nesse ano, completo 27 anos de uma vida bem sucedida e cercada de pessoas que realmente me amam e que me idolatram pela pessoa que eu sou, ou pela qual eu deveria ser. Pessoas que fazem questão de contarem os segundos para que dia 7 de Outubro chegue logo para que a festa comece!Sinto-me bem por todos se importarem comigo, mas isso tudo já não faz mais sentido. Sinto-me velha, e a vida que deveria acabar aos 35, está me deixando no chinelo, marcando meu rosto e joelhos.
Pois bem!Esse ano seria tudo diferente. Um pouco planejado, mas seria do meu jeito.
Sai do escritório por volta do meio dia e não dei explicação a ninguém. Não fui para o restaurante de costume, e deixei no ar alguma coisa como "Volto mais tarde".
Fui até a Alameda Antunes e comprei dois pares de sapatos, uma lingerie e um vestido azul marinho que marcasse bem a minha silhueta.
Voltei para casa, acendi algumas velas, preparei um prato convencional, tomei algum licor e esperei que o presente chegasse. Ele chegou adiantado...
Carlos era mais novo que eu alguns anos. Tinha corpo de menininho e era isso que o tornava especial para mim naquela tarde.
Entrou sem bater e sem fazer cerimônia e já foi logo fazendo o que tinha que fazer. Sentia-me renovada com ele por perto, mesmo com todo o bolo de pessoas me querendo lá fora.
Terminamos logo o combinado e ele foi embora me deixando um perfume, e uma marca no ombro esquerdo...
A noite então começava!
Desliguei a luz e o telefone. Fiquei nua e sentei no balcão da janela e fiquei olhando a chuva cair lentamente e resfriar minha pele enquanto eu colocava os sentimentos no lugar. Estava em mais uma de minhas crises, e ninguém estava por perto para me ajudar, nunca deixei. A Cris que todos conheciam jamais se deixaria abalar por um sexo rápido e um ano a mais de idade.
Eu sentia falta de coisas que nunca tinha vivenciado. Planejava viagens que jamais faria, e idolatrava pessoas que eu odiava com todas as forças. Eu gostava de viver suas vidas, de ser personagens diversos todas as noites depois do trabalho. Não usava perucas e nenhum outro acessório, só de olhar no espelho eu já sabia quem eu queria ser. Era qualquer um, menos eu mesma...
Essa noite chorei todas as mágoas de todos os personagens que já tinha sido. Senti remorso de todas as comidas, e de todas as loucuras que já tinha feito em nome de um fetiche. Resolvi deixar tudo ir embora, com a chuva. Joguei fora todos que eu era e prometi me assumir dalí,começar aos 27 sem culpa nenhuma.
Levantei com calma, e resolvi dar uma chance a todos àqueles embrulhos que estavam empilhados no armário especial de aniversário. Um embrulhinho azul, com fita roxa caiu no meu pé junto com um bilhetinho. Abri, era uma caixinha de música com uma foto de uma mulher bonita e jovem dos anos 50, dada pela mamãe no carnaval do ano anterior. Lembro que ela me disse para abrir quando eu estivesse à vontade e feliz,disse para que eu mantivesse a calma quando lesse o tal bilhete.

"Feliz Aniversário Princesa!Espero que não seja tarde para novas surpresas,para um novo aniversário."


Foi então que eu cai em mim. Nada do que eu vivera até agora tinha sido real, por isso nada fazia sentido. Tinha matado tudo em vão...

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