30 de dezembro de 2010

Dona Elza

Dona Elza era uma senhora de 68 anos que tinha lá seus segredos.E era nessa época de festas sem fim que a velha se apertava,ficava quase impossível viver...

Dona Elza morava numa cidade bem localizada em São Paulo.Morava com seu marido,a filha caçula e indisciplinada,três cachorros e o gato da vizinha que de vez em sempre aparecia para bagunçar suas flores e sujar seu quintal.
Os outros dois filhos com os genros e os netos,apareciam uma semana antes do Natal para tirar seu sossego de vez.

Dona Elza tinha um vício comum,fumava.Não via seu vício como algum pecado,ou como forma de se acabar aos poucos.Enxergava tal tarefa como algo prazeroso,não algo que acabaria com seus pulmões e todas aquelas coisas.
Fumava antes com frequencia e na frente de todos.Várias vezes por dia,após o café,antes do almoço,depois do almoço entre a sobremesa e o café,a tarde para relaxar e a noite antes de dormir para ajudar na digestão e lhe proporcionar uma noite tranquila de sono.
Seu marido odiava deitar perto dela na mesma cama.Alegava estar perto de um cinzeiro,se incomodava e até ameaçou dormir com os cachorros se a velha não parasse.Os filhos apoiaram a ideia,e logo ela se viu cercada,a única coisa que a fazia viajar,a única coisa que estava lhe mantendo os nervos no lugar lhe foi tirada sem mais nem menos,foi triste...
Durante alguns meses,aguentou firme.Sentia falta do cigarro,e vez ou outra pegava a cenoura de forma estranha,ficava assustada.Viu a morte se aproximar de sua vida levando embora uma amiga próxima e muito querida.Deveria ter começado a correr,procurar o médico e se alimentar melhor,mas Dona Elza era difícil,não se entregaria fácil...
Descobriu então que tinha um espaço rápido para uma tragada enquanto seu marido fazia a volta no quarteirão,e a noite quando ele já estava deitado.
Fumava tranquilamente,mas sempre com os olhos arregalados,e o ouvido atento a qualquer passo.Um dia,sua neta mais velha até a pegou dando uma ultima tragada,mas nada que assustasse a velha.
No dia depois do Natal,quando a casa estava cheia,Dona Elza não tinha escapatória nenhuma,pra nenhum canto.Ficava agoniada,e contava os segundos para que sua família linda pegasse logo a estrada.
Demorava um pouco,mas quando se via sozinha,sem marido,os filhos e os netos,só os cachorros (que não falavam) para marcar sua história,Dona Elza acendia um cigarro,abria uma latinha de cerveja e ria entre uma tragada e outra.
Se pudesse descrever o paraíso,apenas deixaria a fumaça dizer por ela...

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